sexta-feira, 24 de abril de 2009

O 25 DE ABRIL AINDA EXISTE?


“Quando me encontrei recentemente com alguns amigos meus que estiveram consigo em Lagos, na época da Páscoa, soube que era professor de Psicologia Social no ISMAT e que mantinha um blogue.
Embora tenha passado o 12º ano com boa classificação, não tive disponibilidade financeira para continuar a estudar porque quis agarrar uma óptima oportunidade de trabalhar em Marketing e amealhar uns trocos. Futuramente, tentarei tirar o curso de Economia ou Gestão Empresarial.
Porém, ao consultar o seu blogue, vendo mencionados vários livros seus e como estamos em vésperas de 25 de Abril, o meu maior interesse consiste em saber se essa revolução seria previsível e se pode ser compreendida através da Psicologia Social. 

Qual a sua opinião ou visão sobre este assunto?
Embora não me conheça pessoalmente, chamo-me Vicente Rodrigues Sampaio e, nos próximos cinco anos, vou ser candidato a um dos cursos acima mencionados, na zona do Porto ou arredores.”



Caro senhor Vicente Rodrigues Sampaio.
Não o conheço pessoalmente mas julgo que sei quem são os amigos de quem falou. De qualquer modo, tenho imenso gosto em tentar dar-lhe uma imagem das minhas convicções sobre o “25 de Abril”, não apenas como docente de Psicologia Social, mas também como homem político que, forçosamente, em democracia, tenho de ser, como todos nós.
Por isso, neste caso particular, tenho dificuldade em separar as águas e peço desculpas pelas opiniões pessoais que possa estar a proferir, visto que vivi 40 anos na «ditamole», daquelas que «faz mossa».

Antes de tudo, peço que leia ou releia o GOVERNAR «BEM» NÃO É
FÁCIL, de 22FEV2009. Através desse post e de outros que nele são mencionados, deve compreender que nunca tive qualquer simpatia pela governação de Salazar, especialmente depois de 1940 e sem a sábia «opinião» e conselhos de Quirino de Jesus.
Na época em que cheguei ao território continental, em Novembro de 1957, verificava-se na população um atraso enorme na alfabetização e na consciência dos seus direitos como cidadãos. Parecia que o Estado era o «Todo-Poderoso» e que fazia o favor de dar, de vez em quando, umas migalhas ao seu povo, o qual não tinha o direito de «refilar» ou de «exigir» qualquer coisa a que se julgasse com direito.
Além disso, a obediência cega e não contestada aos chefes era um «bem» a ser preservado pelos cidadãos para a obtenção de qualquer «benesse» que pudesse ser solicitada no futuro. Assim era tanto nas Forças Armadas como no Funcionalismo Público. A «instrução» era uma regalia dos que possuíam bens de fortuna. Para quê instruir um povo que se destinava a «trabalhar» e a «ser governado»? Para governar, existiam os «eleitos» que a hierarquia escolhia.

Poderão perguntar-me se isso mudou com a nossa actual «democracia».
E as minhas perguntas não se farão esperar:
-- Qual o nosso atraso em relação ao resto da Europa?
-- A taxa de instrução mudou muito?
-- É acessível a todos de modo que os «talentos» sejam desenvolvidos?
-- Se assim não é, como poderá haver «democracia», que é um sistema de governação com a participação de todos os cidadãos devidamente esclarecidos?

Muitos dirão que existem diversos tipos de democracia como a chamada «democracia orgânica» de que muito se falava no tempo de Salazar.
Em quase todos os países do mundo existe democracia!
Não estou a falar na teoria mas sim apenas na prática.
Mesmo nesses tempos, quem conseguia votar correcta e honestamente? Quem conseguia dizer alguma coisa contra o «regime»?
Qual a percentagem das pessoas que percebiam alguma coisa de política, direitos cívicos, macroeconomia ou progresso industrial?
Para que serviam a polícia política e a censura?
Para «determinar» aquilo que os outros deveriam sentir ou pensar?
Para isso, não seriam a instrução e a educação os instrumentos mais adequados?

O desconhecimento e a ignorância eram um «feudo» dos governantes. Continua ainda a ser em algumas terras mais recônditas do nosso Portugal actual e pós-25 de Abril onde existe um «maioral», religioso ou não, que dá o «mote» para que «o rebanho» o siga em coro e as coisas sejam conduzidas ao seu agrado. A democracia não consiste em ir votar mas sim em tomar parte activa na vida pública para que a mesma seja conduzida de acordo com a vontade da maioria e sem a subjugação das minorias. Haverá já instrução e educação suficientes para que a vida pública seja conduzida ao nosso gosto por aqueles que nós escolhemos numa votação? E eles continuarão a ser honestos e coerentes com aquilo que prometeram na sua magnífica campanha eleitoral?
Há poucos dias, falou-se na televisão num estudo comparativo sobre a «liberdade» nos vários países europeus.
Portugal ficava, em média, cerca de 10% abaixo de qualquer outro país.

Se ainda não existe «liberdade» suficiente para estarmos ao nível dos restantes países da Europa, como será possível demonstrarmos convenientemente os nossos interesses?
Se juntarmos a falta de instrução, à falta de liberdade, em que ficamos? Falou-se hoje na TV num estudo da UNICEF sobre a instrução, educação e apoio à criança, que apresenta Portugal como um dos países mais atrasados, enquanto classifica a Suécia no mais alto nível.
Os antigos e actuais Ministros da Educação terão ouvido isto?
Serão os tais «democratas» que temos?


Nos tempos antigos, a falta de desenvolvimento exigiu também o aumento da emigração que, em comparação com o nível de vida dos países acolhedores, fez ver aos vários emigrantes e seus familiares a diferença de nível de vida nos vários países. Em Portugal, as pessoas só podiam ver o que se passava à sua volta mas tinham de se calar. Isso magoa e frustra.
A guerra do Ultramar foi outra porta aberta para um cenário diverso e também frustrante mas sem a possibilidade de reacção.
Nestas circunstâncias, os «castigos» aos quais ficamos sujeitos criam frustrações que exigem uma resposta «engendrada», às vezes, conforme as possibilidades do momento. A pressão originada pela frustração e sentida vivamente dentro de cada um, vai crescendo e exigindo o desejo legítimo de a aliviar. Se não houver escape, o «contentor», qualquer dia, pode explodir.

Seria leviandade e muita ignorância dizer que não se podia prever qualquer comportamento fora do comum. E, o mais vulgar e lógico, seria o de «retirar» os
governantes dos seus «poleiros» e substituí-los por outros que fossem mais consentâneos com os anseios momentâneos da maioria ou de quem pudesse executar essa substituição.

Se os militares eram os mais sacrificados com a guerra e com a falta de desenvolvimento do país e até alguns generais estavam nesse rol, a força necessária estava à disposição «da explosão» desde que se conseguisse um momento propício e um «modus operandi» adequado.

As pessoas mais radicais e os Ballet Rose» funcionavam à mistura com uma governação inadequada que caiu de podre como uma fruta madura na qual ninguém quer pegar mas que deixa saudades em alguns. 


Será que ao fim de 35 anos de exercício do novo poder político, não existem ainda resquícios de «Ballet Rose» modificado?

Em que ficam os cargos, quase vitalícios, de alguns governantes «conquistados» através de electrodomésticos, festas populares, «favores pessoais» e «benesses» várias? E, em que ficou a instrução que é essencial para a aquisição dos conhecimentos necessários para a autodeterminação e desenvolvimento de um povo? Quem a exige e quem a proporciona? Disseminou-se com a entrega de «diplomas»?

Se, com os «bons conselhos» de Quirino de Jesus, Salazar tivesse arranjado, a partir de 1940, um sucessor a quem, com a sua longa experiência dos 20 anos anteriores, ajudasse a melhorar o desenvolvimento e a instrução neste país, bem mereceria a gratidão de um povo que ele ajudou, no início do seu mandato, a «sair da cepa torta». Um largo, um monumento e muitas mais coisas seriam poucas neste País ainda faminto de pão, instrução e democracia.

Salazar «foi-ce sem martelo». De que serviu o ouro que foi acumulado sem um desenvolvimento adequado do País em pessoas e bens?
O desfecho da sua vida faz lembrar a de um outro velho solteirão que vivia num quarto onde ninguém mais podia entrar. Esse homem era um sovina que fazia toda a espécie de sacrifícios, exigindo que a restante família dependente de si também procedesse do mesmo modo. Um dia, foram encontrá-lo morto ao lado da cama, agarrado a uma antiga lata de petróleo quadarngular, com base de 20 cm2. e 50 cm. de altura, com uma bela tampa, cheia de «notas» das mais valiosas.
Depois da sua morte, pouco tempo duraram as «notas» na lata de petróleo. Como eram leves, esvoaçaram! 

O «direito á indignação» de que falou, uma vez, um Chefe do Estado Maior das Forças Armadas, tinha de ser exercido com muito mais razão e acuidade o que poderia ser antes ou depois desta data, que tanto camuflou e mascarou a sua «virtude» nos últimos anos com acções de intimidação.

O nosso vizinho Franco industrializou o país e «passou o testemunho» duma maneira muito sensata e ordeira. Porém, o povo espanhol estava mais ou menos satisfeito com o seu dirigente que não era tão repressivo como o nosso, nem tão forreta. E a nossa falta de visão do futuro foi ainda mais catastrófica.
Vários dos oficiais espanhóis, com quem muitas vezes contactei, diziam-me que estavam a tirar um curso universitário para além do seu curso militar. A nós, essa «benesse» era negada com os mais diversos argumentos. Respondo pessoalmente por isso porque se isso não acontecesse, entre 1963 e 1965 teria concluído o curso de Direito e, provavelmente, seria agora advogado e não psicólogo.
Mas isto só foi possível porque o curso de Psicologia, praticamente proibido «no Estado», em 1965, era uma ténue necessidade a ser suprida no ensino particular e religioso para a orientação e reeducação escolar.
Os mesmos jovens oficiais espanhóis também me diziam que não era necessário ouvir falar a língua, nem ver a moeda ou ler os cartazes para saber se estávamos em Portugal ou Espanha. Bastava olhar para as estradas, para as casas e para o cultivo das terras. Esses oficiais que, em 1961, pareciam andrajosos em comparação
connosco e ganhavam menos do que o nosso ordenado, no ultramar, em 1970, já tinham uma aparência completamente diferente e ganhavam mais do que o dobro do nosso vencimento.
Não terão sido a instrução e a industrialização que ajudaram a Espanha, de Franco, a «dar o salto qualitativo» de que tanto necessitava?
O que fez Salazar, com a sua teimosia, em relação a nós? Deixou-nos ignorantes, mendicantes, invejosos, medrosos e obedientes, exceptuando alguns que, uma vez colocados no «poleiro» se mostram corruptos, importantes e prepotentes?

Assim, inaugurar, em 25 de Abril, um largo, uma estrada, uma ponte, um museu ou qualquer outra coisa, por mais insignificante que seja, com o nome de Salazar, parece ser um pouco ofensivo para a boa coerência dos factos ocorridos e para as pessoas mais radicais e não desmemoriadas. Se formos verdadeiramente democratas, até podemos aceitar que ele fez o melhor que pôde antes de 1940, mas que não soube deixar de disparatar depois desse momento a partir do qual muita da nossa vida teria melhorado só com a aprendizagem da democracia e com o aumento da instrução, assim como aconteceu na Europa à qual pertencemos.
E onde estão todos aqueles que o apoiaram, especialmente, nos últimos 20 anos da sua vida? Vê-se algum na televisão?

Para finalizar, posso dizer que a frustração pode conduzir-nos a comportamentos estranhos e disparatados, não se conseguindo saber de antemão quais serão. Se, no momento em que tivermos na nossa mão o controlo da situação, não formos capazes de reduzir essa sensação de desconforto, tão desagradável para o próprio, talvez tenhamos a surpresa e o desagrado de «nos sair o tiro pela culatra». Para isso o feedback é importante (ver o post Na Comunicação, o Importante é o Feedback, de 14ABR2009).


Ramalho Eanes acabou de dizer, em Grândola, que tínhamos as instituições que merecíamos. E também o país que ajudámos e reformular. Não será verdade? Foi num painel em que também participavam capitalistas! E «esquerdistas»! Não tivemos 35 anos para «construir a democracia» e remodelar o País? O que fizemos? Para onde foram as «ajudas» que recebemos da Comunidade Europeia?A Psicologia Social ensina-nos como devemos estar preparados para reagir de modo adequado; mas também diz que temos de «intervir» se quisermos que a democracia exista e seja uma realidade.
Hoje encontrei um General, «sem ser de aviário», que concordou com as minhas ideias.
Espero que os intervenientes sejam comedidos nas palavras, com toda a liberdade para expressarem a sua opinião, sem ofensas.
Este blog não tem moderação para os comentários.

Caro Senhor Vicente Rodrigues Sampaio.
É esta a minha opinião técnica e política na véspera de um 25 de Abril que ainda não se concretizou!

Em 2018, já existe na colecção da Biblioterapia o 18º livro «PSICOTERAPIA… através de LIVROS…» (R),
destinado a orientar os interessados para a leitura e consulta adequada de livros, desde que desejem enveredar por uma psicoterapia, acções de psicopedadogia, de interacção social e de desenvolvimento pessoal, autonomamente ou com pouca ajuda de especialistas.

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sábado, 18 de abril de 2009

DESCRIMINALIZAÇÃO DA DROGA

"Gostei do seu post.
Qual o «feedback» que me dá acerca das investigações de Glenn Greenwald sobre as suas referências demasiadamente elogiosas feitas à descriminalização da droga em Portugal? Se ainda não leu, consulte o www.salon.com: (8ABR2009).

Dê-me uma opinião sua, tal como a deu ao Carrancudo e ao Abelhudo.
17 de Abril de 2009.
A. Curioso"



Quando em Novembro de 1957, há mais de 50 anos, desembarquei em Lisboa, tendo passado por Carachi, Istambul, Frankfurt e Paris, achei que Lisboa era a cidade mais limpa de todas elas, mas que os seus habitantes eram pessoas que passavam fome. Senão, não se divulgaria a ideia de que “beber um litro de vinho é dar de comer a um milhão de portugueses”. Isto quer dizer que se os bebedores entrassem em greve, um milhão de portugueses iria passar fome.

Vem isto a propósito da resposta a dar a um comentário/pergunta acima transcrito feito por A. Curioso a respeito do elogio «desmesurado» de Gleen Greenwald à descriminalização do consumo da droga em Portugal.
Depois de consultar o site Salon, a resposta mais simples a dar é: “se os consumidores de droga entrassem em greve», os passadores, os traficantes, os produtores e os cultivadores entrariam em pânico, do mesmo modo como acontece, hoje em dia, em tempo de crise, com os fabricantes de automóveis, de tecidos e de outros bens de consumo”.
Não havendo consumo, torna-se desnecessária a produção ou fabricação. Neste caso, não existiria qualquer criminalização ou descriminalização mas apenas falta de dinheiro para a aquisição do produto. E que bom seria se, em vez da falta de dinheiro, houvesse falta de apetência para o consumo!


Quanto à criminalização, lembro-me muito bem da legislação «engendrada», dos equipamentos e meios materiais e humanos adquiridos para a prevenção rodoviária que, nos últimos anos, pouco ou nenhum resultado tem dado em relação à sua magnitude ou aos custos envolvidos.
As manobras perigosas abundam, os equipamentos vão funcionando de vez em quando, os cidadãos vêem-se confrontados com autênticos atentados à sua liberdade de livre circulação, mas os prevaricadores continuam a actuar livremente e quase sem restrições ou punições.
Se um cidadão, com apetência para colocar sempre os seus interesses acima dos de todos os outros, inclusive, quando possível, estacionar o seu carro dentro do café, conseguir esses seus intentos apesar de toda a legislação em contrário e de todos os meios de coacção existentes, vai obter reforço positivo e continuar esse mesmo comportamento com a aprendizagem que estiver a fazer.
Se esse seu comportamento não for eliminado ou neutralizado com uma falta de apetência ou com uma punição eficaz, o mesmo continuará a perpetuar-se enquanto continuar a dar-lhe satisfação com o reforço recebido: “faço o que quero e não sou punido ou impedido de o fazer”. Nestas condições, não me parece que a simples criminalização ou descriminalização resolva o problema.

No telejornal, anunciaram que um relatório sobre a criminalidade em 2008, indicou que a violenta aumentou 10,8% em relação a 2007 e a geral 7,5%. Além disso, em 2008, a delinquência diminuiu cerca de 30%, mas os ataques em grupo aumentaram em 40%. Qual a significação ou ilação que se pode tirar desta estatística? Da minha parte, ponho a hipótese de que os adolescentes que provocavam desacatos isolada e esporadicamente «avançaram» na idade e na prática e agrupam-se agora em gangs para conseguirem atacar melhor, com mais eficácia e «lucros». Temos aqui a «afiliação» e o «reforço secundário positivo» -- e talvez negativo -- em acção. Qual a educação, instrução, ambiente familiar e social dos autores destes desacatos?

Vendo as coisas sob um outro prisma, parece-me que a «guerra dos genéricos» entre a Associação Nacional de Farmácias e a Ordem dos Médicos não é muito «inocente». A Ordem diz que os médicos não aceitam bem os genéricos porque não confiam neles. Acrescenta que eles não ganham coisa alguma em prescrever medicamentos «de marca». Nem uma ida a um Congresso em que possam passar uma férias bem boas? Nem um bom carro que é dado, talvez «em serviço» a um «investigador» que fale bem desse laboratório? Nem qualquer outra «benesse»? Se assim é, qual a razão das «denúncias» de Pequito Valente? Em que é que ficou o seu processo? Não se provou coisa alguma? E será «provada» alguma coisa em muitos outros processos que estão agora «em curso», apesar de existirem vídeos? Para que servem os bons advogados e os subterfúgios da lei? E várias outras coisas de que a televisão tem vindo a falar nestes dias? O que acontece nos outros países quanto aos genéricos?
Qual o seu preço? E na «tropa» não os utilizam? Nestas ocasiões, são melhores ou piores?

Também, se os genéricos são muito bons, qual a razão de existirem mais genéricos relacionados com os medicamentos mais caros e receitados pelos médicos e haver pouca escolha para outros medicamentos que não dependem de receita médica? Não seria melhor a ANF preocupar-se também e principalmente com os utentes e pôr à sua disposição genéricos que não exigem receita médica? Assim, os próprios utentes ou consumidores iriam ajudar a estender a escolha às prescrições médicas. Haverá algum «interesse» escondido atrás desta «guerra»?

Limitando-me agora à descriminalização da droga, segundo os mapas apresentados, parece que a sua utilização diminuiu. Mas as medidas serão suficientes e eficazes? Estamos a pensar em consumir, descriminalizar e reduzir o consumo. E se pensássemos antes a montante? Como disse no início, se não houvesse consumidores, por mais droga que houvesse, criminalizada ou descriminalizada, a mesma não teria «saída». Nem seria comprada em saldo!
Para tanto, é mais importante que não haja apetência e isso só se pode conseguir com uma educação baseada em modelagens, identificações, moldagens e reforços, num determinado sentido e sem dissonância cognitiva. A quem cabe a educação, em primeiro lugar? Aos pais que, às vezes, não têm tempo «para se coçarem»? Aos que tiveram filhos «por acaso» e, às vezes, porque não tiveram uma família que os pudesse acarinhar e amparar? A «facilitação social» e a «afiliação» têm muito a ver com estes processos sociais e familiares. Aos professores que já não têm paciência para «aturar» os «malcriadinhos» que não costumam escassear em muitas turmas?
Na aprendizagem que «conselhos» dos pais. O exemplo deles é fundamental para que, aquilo que dizem, seja executado e interiorizado pelos filhos sem necessidade de castigo -- às vezes imprescindível -- e com compreensão, sem dúvidas em relação ao que ouvem e vêem. É importante que exista coerência e consistência nos comportamentos dos pais e que o seu exemplo seja válido, mesmo sem as palavras e frases «civilizadas» que mistificam muito as intenções ou a significação daquilo que é verbalizado. Os filhos quase que adivinham as «intenções» dos pais e são capazes de obter um feedback muito bom de toda a situação, o qual ajuda a que a educação não seja tão boa como deveria, ou má, como muitas vezes acontece. Senão, para quê a droga? Não será para reduzir a sensação de abandono, desconforto, desânimo, exclusão, desamparo e falta de valor próprio? A droga pode «afastar» a pessoa de todo este mal-estar proporcionando-lhe reforço social negativo que é viciante e adictivo, especialmente, se for aleatório.

Concordo, em princípio, com os resultados da investigação e acho bem que Glenn Greenwald elogie o nosso país, mas interessa saber a razão ou a causa profunda que proporcionou os resultados que ele cita. Por acaso, não haverá por trás desta descriminalização alguém que se dedique concomitantemente à desintoxicação e à reabilitação, com clínicas que vão dando resultados provisórios e nunca definitivos? Qual o resultado dos «tratamentos» realizados? Aqueles que são «tratados» não voltam à droga? Não conheço resultados a não ser daqueles que, como os alcoólicos, reincidem quase de seguida. Valham-nos os Alcoólicos Anónimos!
Por mim, acho bem que se tenha conseguido a vitória que o investigador cita e que PORTUGAL seja mencionado como um país com bons resultados, mas a minha ambição não fica por aqui.

Eu quero que o país ande para a frente; que demonstre que a «educação» é um factor importante e que as famílias, «todas elas», tenham condições para uma vida digna, capaz de «produzir» cidadãos dignos e honestos. Que não produza políticos, banqueiros, técnicos, especialistas, agricultores ou outros operários que necessitem de utilizar apenas o poder, a riqueza, a ostentação, a vigarice, a delinquência, como uma espécie de droga, para obterem reforço social negativo para os «males» que têm dentro da cabeça e que nunca foram expurgados por uma «educação» adequada.

Se cada um estiver «de bem consigo próprio» não terá de esquecer aquilo de que não se lembra, nem tentar lembrar-se daquilo que esqueceu, como está a acontecer a bastantes figuras públicas do nosso país. Terá sempre a possibilidade de se lembrar das boas coisas que a vida lhe proporcionou num óptimo meio ambiente que ele próprio ajudou a criar.
Já chega de roubalheiras, misérias e crises!
Invistam na educação e na instrução para termos um País melhor!

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terça-feira, 14 de abril de 2009

NA COMUNICAÇÃO, O IMPORTANTE É O FEEDBACK


“Como seu antigo aluno de Comportamento Organizacional na LGRH, do ISMAT, não interessa quem seja mas agora em funções de gestão, pergunto a razão de ter realçado tanto o feedback na comunicação.”


Não me preocupando com a pessoa que me fez esta «quase pergunta», informo que numa comunicação existe um emissor e um receptor. O emissor quer transmitir ao receptor uma ideia ou um facto. Por isso, é necessário que o receptor consiga perceber exactamente a mensagem que o emissor deseja transmitir. Não basta ao emissor «largar» palavras. É necessário que essas palavras tenham para o receptor a mesma significação que têm para o emissor.

Como saber se têm a mesma significação? Apenas pelo feedback!
O feedback é o resultado da compreensão do significado que as palavras do emissor tiveram para o receptor, como base para alguma correcção se necessário for. Terão o mesmo significado ou será diferente? O que será necessário alterar, aclarar, substituir ou acrescentar para que a mensagem seja suficientemente compreensível para o receptor e para que este a perceba de acordo com o ponto de vista do emissor? Que perguntas ou medidas deverá o emissor «engendrar» para perceber se o receptor compreendeu o seu ponto de vista? Ou, que perguntas de verificação serão suficientemente prudentes para que o receptor tenha a certeza de que compreendeu bem a mensagem do emissor?

Um exemplo pode aclarar uma situação que, às vezes, pode ter consequências trágicas.
Um doente foi levado à Urgência dum hospital por suspeita de rebentamento de úlcera no aparelho digestivo. Estando internado, a sua medicação contra dificuldades cardíacas foi mudada para outra nomenclatura. Depois duma endoscopia, tendo a especialista declarado que não tinha qualquer úlcera mas sim uma hérnia, foi possível que ele passasse o fim-de-semana em casa, sem qualquer restrição alimentar, mas tomando a medicação com designações diferentes e comprometendo-se a voltar ao hospital na Segunda, para análises complementares.
O hospital preparou o seguinte «cardápio» de medicamentos, distribuídos por três sacos separados, um para cada dia (Sexta, Sábado e Domingo):

P. almoço.08:00 2 id Ticlopidina 250 (TECNOSAL 300 ?)
09.00 1 id Omeprazol 20
1 id Bisoprolol 5 (CONCOR ?)
Ant. refei. Domperidona 10
1 id Isossorbido, Mononitrato 20 (IMDUR ?)

Almoço12.00 Ant. refei. Domperidona 10

Jantar19.00 Ant. refei. Domperidona 10
20:00 2 id Ticlopidina 250 (TECNOSAL 300 ?)

Deitar23.00 noite Sinvastatina 20 (PRAVASTATINA 20 ?)

Como o doente tomava CONCOR 5, IMDUR 5, TECNOSAL 300 e PRAVASTATINA 20,
julgou que CONCOR correspondia a Bisoprolol, IMDUR correspondia a Isossorbido, Mononitrato, TECNOSAL correspondia a Ticlopidina, e PRAVASTATINA correspondia a Sinvastatina, não fez quaisquer perguntas ao médico, que lhe entregou a receita quase a correr, dizendo que tudo estava lá explicado.
Quando chegou a casa, na tarde de Sexta e abriu os pacotes, o doente imaginou que, segundo a sua percepção, faltavam alguns comprimidos de Ticlopidina. Tinham-lhe dado só 6 comprimidos quando, segundo as suas contas, olhando para a receita, que dizia 2 id apenas na Ticlopidina, deveriam ser 12. Na Domperidona, que deveria tomar três vezes ao dia, não mencionavam 3 id e na Sinvastatina também não.

Julgando que eram 2 comprimidos de Ticlopidina de cada vez, tirou aquilo que lhe faltava dos pacotes de Sábado e Domingo, sem raciocinar mais e sem ter o cuidado de fazer quaisquer perguntas ao Centro Hospitalar para aclarar a situação.
Na tal receita, a Ticlopidina estava antecedida de 2 id o Omeprazol estava antecedida de 1 id, o Bisoprolol estava antecedido de 1 id e o Isossorbido, Mononitrato estava antecedido de 1 id. Mas a Domperidona e a Sinvastatina não tinham indicação de qualquer id, embora a Sinvastatina estivesse mencionada para ser tomada ao deitar e a Domperidona antes das três refeições diárias. 

O TECNOSAL é um medicamento que torna o sangue menos coagulante e
mais fluido. Quanto maior for a dose de medicação mais fluido se torna. Tomar na Sexta 1000 (em vez do equivalente de 300 de TECNOSAL) é exceder em 700 a sua dose diária. Fazer o mesmo no Sábado, ao almoço e ao jantar foi exceder em mais 700, o que perfaz um excesso de 1400.
Como no Domingo, não existia mais medicamento semelhante, o doente telefonou para o hospital, explicou a situação de não haver mais medicação e perguntou se poderia ser substituída pelo TECNOSAL. A resposta foi que a dose tinha sido excedida e que poderia causar sangramento interno. A explicação sobre o 2 id foi de 2 tomas por dia, mas não houve explicação para a falta de 3 id para as três tomas, por dia, de Domperidona.
Só o médico saberia explicar essa falta ou esse código novo ou diferente.
O acontecimento mais grave foi que, apesar de não haver mais ingestão desse medicamento ou seu substituto, o «acidente» verificou-se na noite de Domingo provocando no doente fezes negras e vómitos que obrigaram a um internamento de urgência e imediata transfusão de sangue. A partir deste acontecimento pode concluir-se que:

- se o médico tivesse explicado melhor a dosagem da receita;
- se a mesma tivesse sido escrita de forma mais congruente;
- se os
id. tivessem sido melhor explicados ou se a Domperidona tivesse 3 id, com 1 id na Sinvastatina,
- se o doente tivesse telefonado imediatamente antes de abrir os pacotes de Sábado e Domingo;
- se a especialista tivesse «descoberto» a úlcera que, de facto existia,
provavelmente, este «acidente» não se teria dado.
O mais curioso é que, quando o doente teve de ser internado pela segunda vez noutro hospital, descobriram-se duas úlceras além da hérnia, facto que, para além da sobredosagem, ajudou o sangramento.

Um simples feedback na comunicação teria sido mais do que suficiente para evitar uma possível situação melindrosa e muito grave.
Por isso, a todas as pessoas e especialmente aos psicólogos, recomenda-se que o feedback não seja descurado, menosprezado e, muito menos, desprezado. Isso, até foi possível explicar à JOANA.
Ficando a olhar para a fisionomia de desalento desse doente, ouvimo-lo acrescentar:
-- Assumi todo incómodo e a responsabilidade desse «acidente» porque a minha obrigação era de ser mais esperto do que todos os outros. No momento de abrir os sacos com os medicamentos de Sábado e Domingo, sem me basear nos meus «palpites» e «raciocínios», deveria ter telefonado imediatamente para o hospital e aclarar a situação em relação aos id e aos outros medicamentos sem id.

Por nossa vez, perguntamos se todas as pessoas serão capazes de compreender aquilo que muitos técnicos dizem, quase entre dentes e «a fugir», para podermos evitar episódios semelhantes que não devem ser poucos pelo País fora.

Em 2018, já existe na colecção da Biblioterapia o 18º livro «PSICOTERAPIA… através de LIVROS…» (R), destinado a orientar os interessados para a leitura e consulta adequada de livros, desde que desejem enveredar por uma psicoterapia, acções de psicopedadogia, de interacção social e de desenvolvimento pessoal, autonomamente ou com pouca ajuda de especialistas 

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