domingo, 19 de julho de 2009

AS RESPONSABILIDADES DOS PAIS **


“Já viste os nossos dois últimos posts? Não fizeste qualquer comentário! Gostaríamos de saber a tua opinião como psicólogo. Também gostaríamos de ouvir a opinião sobre a petição on-line em relação às multas a serem aplicadas aos pais quando os filhos prevaricam na escola. No teu blog, que visitamos frequentemente, não estamos a ver qualquer intervenção. O que é que se passa?
CãoPincha”



Caros CãoPincha,
Em relação ao e-mail acima transcrito, posso dizer muito simplesmente que não fui visitar o vosso blog porque estive bastante ocupado com a preparação de provas e realização dos exames, além de que, também não recebi, entretanto, qualquer pedido de esclarecimento que me obrigasse a intervir com um novo post. Por isso, esta resposta vai ser a primeira intervenção porque estive, hoje de manhã, a ouvir a Antena 2 sobre este assunto de imensa importância para todos nós e para o futuro.
A sociedade de amanhã vai ser constituída pelos jovens de hoje e pelas crianças que ainda estão por nascer. Todas elas têm o direito à alimentação, alojamento, afecto, educação, bem-estar que devem ser obtidos, em primeiro lugar, na própria família. Como pode a família escusar-se às responsabilidades que ela própria criou com a existência de um novo ser? Quem toma conta e se responsabiliza por esse ser e pelos seus actos inadvertida ou deliberadamente impróprios? Até os donos de quaisquer animais domésticos são responsabilizados pelos comportamentos inadequados dos mesmos porque estes não podem ser responsabilizados. Qual a razão de não se responsabilizarem os pais enquanto os filhos não têm responsabilidade própria?
Para os outros animais irracionais existe a domesticação e treino, até quanto aos hábitos de higiene. Para os humanos temos a educação que se inicia desde o berço e continua durante muitos mais anos do que nos não-humanos porque tanto o período da sua socialização e responsabilização como o de duração de vida é muito mais alargado.
Impingir às escolas e a outros centros de educação essa responsabilidade, que começa muito mais tarde do que a interacção com a própria família onde todas as crianças passam muito mais tempo do que na escola, é «lançar a batata quente» para as mãos daqueles que estão em desvantagem.
A educação, que é a base fundamental para a estruturação da personalidade e da socialização, baseia-se essencialmente na estimulação que o «meio ambiente» proporciona através dos instrumentos disponíveis que são os estímulos, incentivos, modelagens, moldagens, reforços e identificações «manipulados» pelos pais ou pela família desde que a criança nasce. Isto continua até ela ser responsável e se transformar num cidadão útil para si e para a sua comunidade ou, ao contrário, tornar-se um autêntico «parasita» como os muitos que infelizmente passamos a conhecer em qualquer sociedade.
Esta responsabilização não pode limitar-se ao pagamento de multas pelo mau comportamento dos educandos como se faz com um vulgar estacionamento irregular dum veículo automóvel. Passa antes pela garantia de ajuda dos mais responsáveis, incluindo o Estado e os seus dirigentes que, com o seu exemplo, conselhos, incentivos, prémios, castigos e outros «instrumentos» necessários, poderão tornar os mais novos suficientemente responsáveis. Estes devem ser capazes de se tornar hábeis e saudáveis para que a sociedade de amanhã seja mais útil, humana, progressiva e feliz do que a actual, onde a cada instante se depara com a ganância dos mais poderosos, o que até nem acontece no mundo animal irracional.
Basta dar um golpe de vista mais atento por qualquer sociedade chamada «civilizada» que vai
progredindo nos bens materiais e formas de dominação económica, psicológica, física, ideológica. As tentativas de contra-dominação ou subversão, divergem cada vez mais das leis naturais segundo as quais se regem algumas sociedades primitivas onde a nossa «civilização» ainda não chegou. Infelizmente, não só as famílias mas ainda as televisões dão, constante e insistentemente, exemplos que ajudam a difundir modelos de identificação cada vez mais nefastos para o bom desenvolvimento psicológico numa sociedade humanizada.
Temos de reverter esta situação. Por isso, acho muito bem que, segundo os ensinamentos da psicologia e do desenvolvimento humano, os pais e os familiares mais directos sejam sempre responsabilizados e ajudados a educar quem devem, da maneira mais adequada possível, para que o mundo possa mudar e progredir num sentido mais humanista e menos ganancioso do que agora.
Tenhamos o bom senso de aprender com o passado para precaver um presente e um futuro melhor do que o actual para os nossos descendentes.
Os ensinamentos de Psicologia devem servir para isso.
Esta resposta pode parecer um pouco moralista mas um praticante da Psicologia tem de ter uma determinada ética na utilização dos conhecimentos que possui e difunde do mesmo modo como um médico deve ter ética suficiente ao lidar com receitas que podem ser benéficas para uns e maléficas para outros, pelo menos em determinados momentos e em doses inadequadas.
Em quaisquer circunstâncias, é à família que cabe a difícil tarefa de preparar um indivíduo para a plena cidadania com os meios simples de que dispõe: o seu exemplo, os meios de castigo e elogio, os ideais e a afectividade, a ser utilizados com o bom senso e a responsabilidade que esta magna tarefa exige.

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Em 2018, já existe na colecção da Biblioterapia o 18º livro «PSICOTERAPIA… através de LIVROS…» (R), destinado a orientar os interessados para a leitura e consulta adequada de livros, desde que desejem enveredar por uma psicoterapia, acções de psicopedadogia, de interacção social e de desenvolvimento pessoal, autonomamente ou com pouca ajuda de especialistas.

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4 comentários:

CãoPincha disse...

Embora a tua opinião seja sensata, é pena que existam muitas famílias que não consigam ter tempo para o dedicar aos filhos.
Não estamos a falar nas «famílias» que contratam pessoal para tratar dos filhos porque é mais «chique» ou é mais «especializado» ou, simplesmente, é mais maçador e «ocupador» do tempo «disponível».

Jacinto Domingues disse...

Eu não tenho nem posso ter outra pessoa para tomar «conta» dos filhos mas não sabia que o convívio dos pais com eles era muito importante.
Agora, eu fico com eles enquanto a minha mulher prepara o jantar. Assim, eles não vêem os Morangos com Açucar porque o nosso jogo é muito melhor. Depois, eu lavo a louça enquanto a minha mulher fala com eles acerca da escola e dos trabalhos de casa.
É um casal com 5 e 7 anos.
Oxalá que as coisas corram melhor do que já estão dopois de uma semana de ensaios.

Anónimo disse...

Seria agora muito bom que os pais preparassem os filhos para a política: activa, interveniente e apartidária.
O seu exemplo pode ser uma das maneiras.

Inácia de Jesus disse...

A opinião dos CãoPincha deu-me a ideia de consultar o blog deles. Isso fez-me compreender a importância dos pais na educação dos filhos para uma ambiência democrática.
De facto, eu não fui educada num ambiente assim e, por isso, sofro muito.
Pode ser uma das razões da minha actuação neurótica e insatisfação na vida.
Vou cuidar de mim e ter mais atenção na educação do meu filho.