terça-feira, 20 de outubro de 2009

AUSÊNCIA DAS MÃES EM CASA E OBESIDADE **

Um comentário ao meu post O Autismo Entre Nós, de 31 Agosto 2009, feito por um anónimo, no dia 15 de Outubro corrente, diz o seguinte:
“Ouviu dizer que um estudo inglês descobriu que a obesidade está
 correlacionada com a ausência das mães em casa por causa
 do emprego?
 Qual a sua opinião?”


A minha resposta, sem conhecer esse estudo, mas vendo a reportagem apresentada na televisão, é muito simples e baseia-se nos conhecimentos sobre a modificação do comportamento.

1.  Qualquer ser animal e especialmente o humano, necessita de reforço, isto é, satisfação. Por isso, procura obtê-lo da maneira que lhe é mais fácil e económica. Em cada momento, cada um sente essa satisfação da maneira que lhe é peculiar, isto é, através de elogios, carinhos, honras, dinheiro, reconhecimento do seu trabalho, etc., que se traduz em reforço.
2.  Qualquer criança necessita de atenção, carinho e afectividade e isto até se verifica nos restantes seres animais. É por isso que as crias ficam nos primeiros tempos de vida, com os progenitores ou com a sua espécie até se autonomizarem e se tornarem adultos, obtendo destes os reforços adequados.
3.  Se não houver o carinho, o afecto e a atenção que proporcionem reforço, o ser humano pode eventualmente conseguir obter esse reforço que lhe é necessário através de diversas acções tais como comer, brincar, maltratar os outros, imaginar situações fantasiosas, fazer disparates para chamar a atenção, etc.
4.  O reforço obtém-se quando qualquer das acções equivalentes às enunciadas tiverem bom resultado e derem satisfação. É o reforço positivo.
5.  Quando situações semelhantes se repetirem e continuarem a dar reforço, especialmente o de razão variável ou aleatório, é provável que exista uma aprendizagem cada vez maior e mais alienante porque funciona para dar satisfação, que não é conseguida de outro modo.
6.  Quando a falta da mãe ou o pouco contacto com ela reduzir o carinho, o afecto e a atenção necessárias, a comida pode funcionar em sua substituição, especialmente porque os pais, muitas vezes, dão guloseimas em vez do carinho e afectividade que são imprescindíveis.
Assim, a falta de atenção dos pais pode ser substituída por presentes, por uma boa refeição ou guloseimas.
Também, o exemplo de consumo de guloseimas pelos pais pode muitas vezes, servir como um modelo a ser imitado.
Isto acontece frequentemente, com os pais que dizem aos filhos que os mesmos fazem mal, mas dão-lhes estas comidas, até com os modelos que eles próprios proporcionam. Pode até haver a possibilidade de os filhos tentarem identificar-se com eles e até tentar superá-los.

Por isso, não admira que a obesidade tenha vindo a aumentar ao longo do tempo e que seja maior nos lares em que a «ausência» ou «desapego» dos pais em relação aos filhos seja também maior do que em qualquer outro contexto.

--  Se os pais mantiverem um bom contacto com os filhos;
--  se lhes derem conselhos acerca duma alimentação saudável;
--  se lhes proporcionarem exemplo e modelo adequados através dos seu comportamento;
--  se elogiarem os filhos e lhes prestarem maior atenção sempre que tiverem uma alimentação saudável;
é muito provável que esta correlação de chamada «ausência das mães» possa ser substancialmente reduzida, especialmente se o pai também «entrar no jogo» de educar os filhos com bons modelos e reforços.

Muitas vezes não é só a ausência, mas a falta de paciência para «aturar os filhos», depois de um dia de trabalho e «chatices», que ocasione o «desapego».

Por este motivo, todos os Governos, especialmente na Europa, têm de pensar muito bem no «equipamento social» chamado família dando-lhe boas condições para procriar e educar os filhos saudavelmente. O tempo e a qualidade para o bom aconpanhemento dos filhos pode ser crucial para o desenvolvimento saudável duma nação.

Se isso não acontecer e se este facto não for tomado em conta, em pouco tempo poderemos ter um mundo ocidental alienado, tecnologicamente avançado, delinquente, obeso e viciado.
Não se julgue que os vícios da droga, do álcool, da ganância, incluindo o de defraudar os outros, ou qualquer outro, como os actuais jogos de computador ou da lotaria não se situam nestes parâmetros. Basta ouvir as televisões a apresentarem outros estudos (informação dada ontem na televisão), que tiram conclusões a jusante como os efeitos que esses vícios ou alienações ocasionam. É necessário descobrir quais as causas que provocam os efeitos, que é essa alienação ou vício. As pessoas vão buscar a satisfação naquilo que conseguirem fazer melhor e mais rapidamente para se sentirem felizes, embora não se possa dizer que o consigam ser, de facto.
A insatisfação sentida pelos que praticam
actos desviados moral e financeiramente,
são o reflexo disso.

Estamos todos inseridos numa cultura que prevalece como uma norma social a seguir. Não nos é estranho ver realçados os valores do dinheiro da aparente beleza, da confusão da satisfação da felicidade com os bens materiais e financeiros, privilégios e honrarias. Nesta cultura, as pessoas que não conseguem obter aquilo que a sociedade realça como fins a atingir, sente-se frustrada. Para obter a sensação de vencer, ensaia diversas actuações até imaginar que está a conseguir sair vencedora segundo os cânones sociais estabelecidos. Entretanto, foi executando comportamentos «desviados» que proporcionaram uma aprendizagem tão vincada e a longo prazo que é difícil de ser desaprendida com facilidade e até pode prejudicar a boa saúde física e mental. Esta actuação não é o resultado de um dom ou de uma predisposição inata mas sim duma capacidade adquirida com a aprendizagem naquela sociedade.

Senão, vejamos o que acontece em muitas sociedades primitivas em que a «gordura» ou a «competição» não é valorizada mas até é desaconselhada.

Para tanto, a «educação» é extremamente importante mesmo nas comunidades animais selvagens, onde as crias ficam muito tempo com os progenitores. Será que o mesmo acontece agora nos aglomerados humanos primitivos? E se olharmos para os «civilizados» podemos dizer o mesmo?

Tudo isto está cientificamente enquadrado e explicado em linguagem simples  no livro da JOANA e nos cinco pequenos volumes intitulados COMO MODIFICAR O COMPORTAMENTO, da Plátano Editora (agora, F), bem como no volume SAÚDE MENTAL sem psicopatologia, da Calçada das Letras.
Diversos posts anteriores trataram deste assunto respondendo a várias perguntas feitas pelos nossos interlocutores ou comentadores.
Com o contacto, cada vez mais reduzido estabelecido pelos pais (pai e mãe) com os filhos, é durante este importante tempo de educação que se adquirem muitos vícios que só tardiamente são «estudados» para se descobrirem os seus efeitos nocivos.
Depois, surgem as propostas para os combater com medidas extraordinárias de maior envergadura e menor eficácia do que as possíveis numa educação saudável desde a nascença, pelo menos, até à puberdade.

Espero que tenha conseguido dar a resposta possível ao meu comentador anónimo, a quem agradeço
a colaboração prestada com o seu comentário oportuno. 

Ver o post LIVROS DISPONÍVEIS.

Em 2018, já existe na colecção da Biblioterapia o 18º livro «PSICOTERAPIA… através de LIVROS…» (R), destinado a orientar os interessados para a leitura e consulta adequada de livros, desde que desejem enveredar por uma psicoterapia, acções de psicopedadogia, de interacção social e de desenvolvimento pessoal, autonomamente ou com pouca ajuda de especialistas.

Consultou todos os links mencionados neste post?

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Ver também os posts anteriores sobre BIBLIOTERAPIA
É aconselhável consultar o ÍNDICE REMISSIVO de cada livro editado em post individual.

Blogs relacionados:
TERAPIA ATRAVÉS DE LIVROS para a Biblioterapia

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4 comentários:

Anónimo disse...

Agradeço a resposta dada ao meu comentário. Gostei da mesma. Esperava que fosse mais ou menos assim por ter consultado muitos dos seus posts anteriores

Júlio Machado disse...

Gostei da sua resposta dada a um anónimo porque serve perfeitamente para o meu caso.
Já estou a compreender que tenho de prestar mais atenção ao meu filho de 10 anos que vive comigo desde que me separei da mãe dele.
Embora o meu emprego seja muito absorvente tenho de arranjar tempo para o dedicar ao meu filho que tem estado a engordar muito no último ano.
Vou ler melhor todos os seus posts e ver se consigo obter alguma literatura para a ter sempre à mão de maneira mais cómoda.
Agradeço-lhe a preocupação de manter este blogue.
Vi-o por acaso, mas serviu para muito. embora tenha lido só este artigo.

Anónimo disse...

Gostei deste post que nos ajudou a ter um melhor relacionamento com a única filha de 13 anos.
Agora, tanto eu como a minha mulher, até conseguimos estar mais descansados no serviço.

fénix renascida disse...

Eu considero que ausência da mãe se faz sentir bem mais do que a do pai. Acho que as mães deviam investir mais nos filhos (e não no lazer doméstico) do que numa carreira ou profissão. Deviam, a meu ver, trabalhar a meio tempo ou a partir de casa, por forma a dedicarem mais tempo aos filhos.
Não podendo (ou não querendo) fazê-lo, devem dedicar-lhes algum tempo de qualidade. Tal serve, também, para os pais (homens).
Não sei porque razão o filho de um dos intervenientes vive, após a separação, com ele, mas suponho que tenha sido por decisão da criança, coisa que, no meu entender, deve ser respeitada.
De outra forma, entendo que, em caso de separação, os filhos devem permanecer com a mãe. Mas isto vai de caso para caso.